sábado, 21 de fevereiro de 2009

Tem um fundo de verdade ou é mais uma e-corrente?

Tem um fundo de verdade.
A mensagem contém erros e deixa dúvidas, mas isso foi um assunto polêmico e bastante discutido nos Estados Unidos.
Na prestigiada revista "The New England Journal of Medicine (NEJM)", no ano de 2000 um artigo chamado " PHENYLPROPANOLAMINE AND THE RISK OF HEMORRHAGIC STROKE" foi publicado. Neste, os autores tentavam colaborar com o FDA e com os laboratórios que manufaturavam a fenilpropanolamina para definir o real risco do componente.
Vejamos alguns dados do artigo:
- A Fenilpropanolamina é um composto encontrado em INIBIDORES DO APETITE e ANTIGRIPAIS. - Desde 1979 MAIS DE 30 CASOS que descrevem a associação de hemorragia intracraniana à fenilpropanolamina (FPP) foram publicados.
- A maior parte das pessoas acometidas eram adolescentes ou mulheres entre 17 e 45 anos que usavam inibidores de apetite com FPP, freqüentemente pela primeira vez.
- Além dos casos relatados, o FDA, entre os anos de 1969 e 1991, recebeu 22 relatos de casos espontâneos de hemorragia intracraniana associada ao uso de FPP em inibidores de apetite (16) e antigripais (6) - Jolson HM: personal communication
- A conclusão do artigo é a de que a FPP presente nos inibidores do apetite e POSSIVELMENTE nos antigripais é um fator de risco independente para hemorragia intracraniana em mulheres. (N Engl JMed 2000;343:1826-32)
- Houve quem escrevesse para a revista contestando a decisão do FDA de retirada do mercado de todos os medicamentos contendo FPP. Para este ficava claro que os inibidores de apetite, usados em dose muito mais elevadas que os antigripais, eram os principais responsáveis pelos eventos. N Engl J Med, Vol. 344, No. 14 April 5, 2001 Correspondence

- Para o Editor do NEJM, dada a disponibilidade de outras terapias adequadas, os benefícios da FPP contida nos antigripais não justificam seus possíveis riscos
(NEJM - Editorial Volume 343:1886-1887, Dec 21, 2001)

- Em 22 de Dezembro de 2005 o FDA propos a criação de regras para disponibilização de descongestionante nasais e inibidores de apetite contendo Fenilpropanolamina como medicação "over the counter (sem obrigatoriedade de receita médica para aquisição)". A notícia ficou sobre avaliação pública até 22 de março de 2006 quando o FDA provavelmente impediria o comércio livre de tais produtos.
- Em 9 de março de 2006, através da "Patriot Bill" assinada por Bush, a fenilpropanolamina entre outras compostos deixariam de estar disponíveis livremente para a população a partir de 30 de setembro de 2006, http://www.fda.gov/CDER/news/methamphetamine.htm.
Não sei quanto a resolução da ANVISA citada sem o ano. Ficam as evidências para a reflexão.
Na minha opinião: 1o - em medicina nada é 100%. 2o - Siga as orientações do seu médico, pessoa a quem você naturalmente confia sua vida.
Que responsabilidade!
Abraços, João.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um Acaso Feliz!


A palavra "Serendipity" parece não ter tradução para o português.

Significa uma descoberta útil, feliz, sem o propósito, ao acaso.

Segundo o dicionário Inglês Oxford, o termo foi utilizado por Horace Walpole em uma carta a seu amigo Sir Horace Mann em janeiro de 1754. Ele explicava que se baseou num conto: " The Three Princess of Serendip" (um antigo nome do Sri Lanka), aonde os protagonistas estavam sempre fazendo descobertas, por acidente e sagacidade, de coisas pelas quais não procuravam.

O livro "Happy Accidents: Serendipity in Modern Medical Breakthroughs" de Morton A. Meyers comenta exemplos de "serendipitys" que representaram avanços médicos.


N Engl J Med 356:2658, June 21, 2007 Book Review

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nostalgia

Música é algo extraordinário.
O dia começou pesado.
Um atraso imprevisto, uma tarefa atrás da outra, uma fome repentina (mascarada por uma Coca ao invés do café)...
Para dar continuidade ao trabalho, mental e digital, de frente à tela, cercado por dados de laboratórios, decido colocar uma musiquinha. Uma rádio easy, o que acho compatível.
Imediatamente me transfiro para uma festa da minha pré-adolescência e sinto, de maneira fugaz, a mesma sensação que sentia naquela época.
Uma música do "The Commodores". Surpresa agradável.
Sinto saudades, e imagino que no futuro lembrarei deste momento da mesma forma.
Uma gota estimulante para o restante do dia.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

ARU!

Passo por aqui para salvar uma data.
Ontem fui a um dos casamentos mais bonitos que já presenciei.
Lá mesmo, soube que seria padrinho.
Um casal especial, uma história particular, um lugar mágico, com pessoas de bem.
Um casamento numa manhã sem muito sol, sem frio ou calor, sem terno, sem gravata.
Um conforto emocionante.
Felicidade "acordada"!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

REMAKE

Após conversa descontraída na última semana, fui buscar no fundo da gaveta um recorte de jornal com um artigo da F. de S. Paulo de 09 fevereiro de 2004. Fora escrito pelo ex-articulista, Nelson Ascher. O título: "My Way".
Escrevo, porque foi neste pedaço de papel que li sobre a composição "Quotidiano" de 1971 sob autoria de Chico Buarque.Segundo Ascher, Claude François, Gilles Thibaut e Jacques Revaux compuseram "Comme d´Habitude", cuja letra fala sobre um dia comum na vida de um casal. Ele acrescenta que melosa e um tanto tediosa, a canção poderia ter inspirado o compositor brasileiro a desenvolver uma obra superior: "Quotidiano" -1971. Sobre o título da coluna, "My Way", transcrevo o trecho abaixo:"...Jacques Revaux, antes de escrever em francês, escreveu em inglês "For Me". E Paul Anka, após comprar o disco em Paris, compôs-lhe (preservando a melodia) um texto totalmente distinto e mostrou a seu amigo "Ol´Blue Eyes". O resto é história". O artigo é interessante. Correlaciona a letra transformada por Anka com o famoso poema de Rudyard Kipling "If", sendo tudo uma "homenagem ao individualismo anglo-saxão". E ainda suspeita de um possível desdobramento de "My Way" para "I am What I am", hino da independência e autoafirmação gay (de Jerry Herman para "A Gaiola das Loucas"). Finaliza afirmando que apesar de muitos a terem cantado ninguém, após Sinatra, imprimiu uma marca tão original como John Simon Ritchie, ou Sid Vicious, no final dos 70. A música foi apresentada na forma de um clip no filme "Sid and Nancy (1986)" de Alex Cox com Gary Oldman no papel de Vicious.Conferí rapidamente, e talvez seja o que Ascher descreve: "uma zombaria heroinômana mortalmente séria". Preciso assistir o filme. Mas é difícil tirar My Way do velho Frank, talvez Tom Jones?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Jacques Revaux ou Claude Françoise

A música popular se parece às vezes com o cinema. Existem, e não são poucos, clássicos da música que se comportam como "refilmagens" de obras esquecidas.
O trabalho artístico, mais do que com princípios corretamente empregados, tem antes a ver com resultados pragmáticos que dependem, não raro, do acaso, da sorte.
A trajetória de "My Way" ilustra perfeitamente esses paradoxos.
A canção celebrizada por Frank Sinatra em 1969, é adaptação americana de um original francês. No mesmo ano também gravou "If you go away", traduzida para o inglês por Rod McKuen, da obra prima de Jacques Brel "Ne me Quitte Pas (1959)" algo que soa não menos patético do que a tradução de Ronnie Von quando reduziu "Girl (1965 Lennon/McCartney)" à "Meu Bem".
Claude François (que morreu eletrocutado no chuveiro) compôs em 1968, com Gilles Thibaut e Jacques Revaux " Comme d´Habitude" (Como de costume), e sua letra, falando sobre um dia comum na vida de um casal, embora melosa e tediosa, quem sabe tenha inspirado uma composição superior "Quotidiano" (1971), de Chico Buarque.
O próprio Revaux, antes da letra em francês, escrevera uma em inglês (For me), mas foi Paul Anka que, após comprar o disco em Paris, compôs-lhe (preservando a melodia) um texto totalmente distinto e o mostrou a seu amigo "Ol´Blue Eyes". O resto é história.
O contraste entre ambas: enquanto a de François, mornamente amorosa, consiste numa ladainha à mesmice, a de Anka/Sinatra, cujo nome título quer dizer "à minha maneira", homenageia o individualismo anglo saxão, descendendo em linha direta de "If" (Se), o poema mais conhecido de Rudyard Kipling (1865 - 1936). "Se és capaz de manter a tua calma, quando, / todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa./ De crer em ti quando estão todos duvidando, / e para esses no entanto achar uma desculpa."
Um possível desdobramento de "My Way" foi "I am what I am". Hino da independência gay, composto por Jerry Herman para seu musical da Broadway, " A Gaiola das Loucas" (1983), baseado em "La Cage Aux Folles" (1978), filme franco-italiano de Edouard Molinaro com Ugo Tognazzi, fez sucesso em 1984 tanto na voz de Shirley Bassey quanto na de Gloria Gaynor.
A maioria das canções raramente se desvincula de um intérprete, de preferência seu compositor, porém a maleabilidade da criação de Françoise, Anka e outros, talvez seja a exceção que confirme a regra.
Apesar de muitos a terem cantado, ninguém, depois de Sinatra, imprimiu-lhe uma marca tão original quanto John Simon Ritchie, ou melhor, Sid Vicious, que converteu-a, no fim dos anos 70, numa zombaria heroinômana mortalmente séria. Apresentada sob a forma de um "clip" em "Sid and Nancy" (1986), de Alex Cox, com o Grande Gary Oldman no papel de Vicious, "My Way" é também o ponto alto do filme.
Extraído da coluna de Nelson Ascher.
FSP 09/02/2004 - Ilustrada.