sábado, 19 de setembro de 2009

Growing !

Passando a pequena mão sobre o rosto, ligeiramente inclinado, com a cabeça apoiada sobre a cadeirinha no banco de trás:

- Pai "tô" ficando grande!
- Como filho?
- Olha, tenho barba!

* Quinze para as onze da noite, voltando do jantar de aniversário da vovó Sônia.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Universidades do Brasil

As Universidades de Hoje são representadas pelo desinteresse dos alunos e pela asfixia burocrática dos professores.
Russel Kirk nos anos 50, observava que a Universidade era o objetivo da classe média, de gentes sem posses. A vida acadêmica começava a entrar em agonia e a proletarização dos universitários se tornou inevitável.
Dar aula representava ascensão social e o carreirismo assolaria a academia como assola qualquer emprego.
Muita gente que vai dar aula na Universidade não é tão brilhante ou tão interessada em conhecimento.
Muitos alunos e professores buscam a Universidade não para conhecer mas sim para transformar o mundo e ascender socialmente.
A obrigação da Universidade de produzir conhecimento de impacto social é tão instrumental quanto produzir especialistas na última versão do Windows.
O utiliritarismo quase sempre ama a mediocridade intelectual e a mediocridade funciona. Gera lealdades, produz resultados em massa, convive bem com as estatísticas, evita grandes idéias. Caminha bem entre as pessoas acuadas pela demanda de viver.
A asfixia burocrática conduz tudo em nome da democratização da produção e da produtividade da produção.
A burocracia nasce da necessidade de organização, controle, avaliação. A busca de aperfeiçoamento faz parte do sistema.
A pressão pela produtividade proletariza tanto quanto a pressão pela carreira.
A produção asfixia a universidade em nome de uma universidade mais produtiva, democrática e transparente em sua produtividade
Observamos a passagem da universidade à banal categoria de indústria de conhecimento aplicado, e sob as palmas bobas de quem quer "fazer o mundo melhor".
P.S - Idéias extraídas do texto "Um relatório para a academia" de Luiz Felipe Pondé
FSP 14/9/2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Insanidades Cotidianas I

Paulo detestava tomar multas, porém sempre estacionava e não preenchia o cartão. Na maioria das vezes se dava bem, o que o estimulava a persisitir.
Então, foi multado, e percebeu no exato momento. Largou o que estava fazendo e se dirigiu para o local com a intenção de evitar o prejuízo. Que desculpa utilizar?
- Faz menos de quinze minutos que estou parado aqui.
- Sim - concordou o agente de trânsito
- Eu tenho cartões no carro, veja.
- Deveria tê-lo preenchido antes.
- A placa da zona de estacionamento está obstruída pelos tapumes daquela construção.
- O senhor deve fazer uma reclamação por escrito diretamente no serviço de trânsito.
- Quanto é?
- São R$8,00 e o senhor ganha um cartão com 10 folhas para permanência de meia hora.
Paulo puxa a nota mais alta da carteira para dificultar o troco, como uma tentativa de aborrecer a pobre fiscal. Sem problemas:
- São R$42,00, seu troco. Obrigado!
- Rrrr...brgado.

***
É de manhã cedo e Paulo recebe mais uma multa.
Como da última vez, há cerca de 2 meses, observa a fiscal. Chega antes do término do preenchimento:
- Bom dia!
- Bom dia!
Persiste observando a jovem por uns 10 segundos que também não tolera o silêncio:
- Esse carro é seu?
- Sim.
- São R$ 8,00 com direito a um bloco com 10 folhas para 30 minutos de permanência cada!
- Perfeitamente. Aqui está! - Oferece um nota de R$ 50,00 e reitera - Fique com o troco.
- Não senhor, não...
- Para comprar umas balas, tomar um café, o que for!
- Mas eu não posso!
- Passe bem. - A jovem guardou o troco em sua pochete e fez um pequeno relatório do que se passou.
Paulo começava a demonstrar sinais de insanidade.

***

É meio-dia e Paulo vai pagar uma conta no banco. É inseguro quanto ao uso da internet, mas muito experiente no caixa eletrônico. Passa rapidamente pela fila e paga cinco contas em menos de 5 minutos. Um recorde. Ao chegar ao carro se depara com uma mulher de uns 40 anos que, uniformizada, anotava sua placa na multa.
A vaga que havia conquistado com tanto zelo e a rapidez com que passou no banco àquela hora do dia se misturavam a raiva e angústia por ter esquecido de preencher o tal cartão. Ou melhor, por não tê-lo preenchido. Ao se aproximar da fiscal.... ficou louco.
- O senhor é o dono deste carro?
- Aaaabbbbaaaa. GRuiiinnnnn.
- ?
Um silêncio breve, a jovem senhora ficou um pouco tensa, continuo preenchendo o cartão e o colocou no para-brisa logo se retirando do local. Paulo que neste momento babava, aparentemente catatônico ao lado do carro, retirou a multa, a rasgou e a engoliu. Entrou no carro e foi embora. A fiscal agora multava dois carros mais a frente.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Otto Maria Carpeaux

Assisti à Carlos Heitor Cony falar sobre o romance ao lado de Moacyr Scliar.
Já foi há umas duas semanas.
Conhecia um pouco de cada um.
Porém são dois nomes fortes da literatura e do jornalismo, e mais do que qualquer coisa, um tem 83 e o outro 72 anos.
Se fosse dar um conselho a alguém diria, respeite os mais velhos.
Eis que entre muitas estórias interessantes, Cony comenta o nome de um jornalista amigo, que segundo ele teria sido uma das pessoas mais inteligente com quem conviveu. Uma inspiração. Escutei mas não ouvi. O que percebo por vezes na CBN e já foi comentado outrora por um amigo: " é muito mais claro lê-lo do que ouví-lo". De qualquer forma fiquei curioso para conhecer mais sobre uma pessoa inteligente que o inspirou. Não consegui encontrá-lo.
Eis que vou ler a coluna de domingo passado do Tostão. Curiosamente não comprei o jornal neste final de semana, era aniversário do meu filho e passei a manhã, a tarde e a noite com o pequeno. Antes de me deitar assisti ao "Café Filosófico" e reencontrei o filósofo Luis Felipe Pondé falando sobre o medo.
Pois, Tostão citou Pondé: " O habitat natural da alma é viver entre Deus e o Diabo. Sem esse combate a alma se dissolve em pequenas manias diárias e fica pequena". Pondé começou a escrever às segundas-feira na Folha, no lugar de Nelson Ascher. Falou que gostaria de seguir a linha jornalística de: Nelson Rodrigues, Paulo Francis e Otto Maria Carpeaux.

Carpeaux foi encontrado.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Dízima Periódica

Hoje vi um carro da polícia.
Rodava sem pressa.
Os tiras, nos acentos da frente, conversavam descontraidamente.
Não havia barulho.
No porta-malas, uma jovem franzina de cabelos secos.

Se um extra-terrestre observasse e entendesse as figuras, provavelmente tentaria salvar o mais frágil dos seres, que também estava em menor número e em situação desfavorável.

Em mim também gerou certa revolta.
Fazia tempo que não via uma pessoa ser transportada presa num porta-malas.
Não bastava algemá-la e conduzí-la sentada no banco de trás?
Nossos carros não tem vidros como em Bervely Hills Cop.

Talvez tivesse abandonado a filha recém-nascida dentro de um saco plástico no rio mais próximo, ainda que o bebê chorasse de fome ou frio.

Então cheguei atrasado.
E se eu visse essa cena?

Eu, que não sou afeito à violência e discussões, que não gosto de correr riscos, interviria.
Imagino uma situação em que me sentiria capaz.
Ao impedir tal crueldade me deparo com uma jovem sem reação, que não ameaça ao menos uma fuga.
Está fadigada fisicamente e consumida mentalmente, sem a interferência de drogas.

O marido recomendou que tomasse uma providência.
Não teria como sustentar o sétimo filho.

Safou-se de uma agressão física.
Indubitável, para ele não precisava de motivos.
Bastava chegar em casa.

Deixou seis filhos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ramerrão

Ser médico, nos dias de hoje, de certa forma é um privilégio. Não nos falta trabalho. Por outro lado, há de trabalhar por várias horas e em vários lugares. O telefone celular é um mal quase que totalmente necessário. Nesse contexto informações sobre pacientes são trocadas por colegas, e a calma que um tem para passar o caso, por vezes não é a mesma que o solicitado tem para refletir e responder. O tempo, o celular e a rotina aprisionam os médicos.

Imagine um cirurgião cardíaco que inicia a primeira cirurgia às seis horas da manhã, segue até metade da tarde, para então atender um ambulatório quase infinito, tendo que, no meio das consultas, responder a uma intercorrência nas enfermarias e a uma avaliação urgente solicitada pela UTI! Você pode dizer, loucura, não se pode trabalhar sozinho, ou desse jeito! Mas acontece, nos melhores hospitais,nas diferentes especialidades, em todas as cidades! No dia seguinte lá está novamente o cirurgião enfrentando uma nova jornada.

Pois ao sair da UTI de um Hospital dirigido por freiras, sou seguido pela enfermeira chefe, uma irmã que sustenta alguns prontuários enfileirados sobre as mãos. Em nossa frente, já distante poucos metros, caminha um senhor branco, magro, de poucos cabelos brancos que cercam a rubra calva. Com um curto jaleco branco e calças pretas o santo senhor interrompe seus passos:

- Padre Chico - chama a freira - O senhor deu a benção para a paciente do 9? Ela chegou ontem e é muito grave!

Nisso o pároco inicia uma meia volta, lenta como sua dúvida, olha para irmã um pouco desconcertado e responde como se procurasse uma explicação:

- Mas ninguém me avisou desta paciente!

Não acompanhei o desfecho. Acredito que a paciente recebeu a benção. Seguramente, na manhã seguinte, lá estará Padre Chico para uma nova visita!