Nesta tarde choveu forte
Chegava ao estacionamento do consultório e uma pequena fila se formara devido a indecisão de um motorista.
Finalmente ele entrou.
Houve tempo de conversar com o manobrista, apanhar a pasta e vestir o jaleco.
Cheguei ao elevador e me deparei com a família que aguardava durante este tempo.
O pai mais distante, o primogênito a seu lado, a mãe de frente a porta e a pequena filha um passo adiante.
Todos penteados, limpos e arrumados.
Resolvi checar, pois já estava em cima da hora.
Foi bom, ainda não haviam chamado o elevador.
Apertei o discreto botão.
Visivelmente perdidos, talvez tentassem se encontrar, embora o fizessem em total silêncio.
Quem destoava era a pequena.
Moreninha com os cachinhos estaticamente desenhados, camisa branca por fora da calça de moleton cinza, e sapatilhas pretas com bolinhas brancas como suas meias.
No colo, um bichinho de pelúcia albino.
Na face, dois olhos curiosos que varriam a redondeza.
A criança não pertencia ao conjunto.
Era pura e inocente naquela situação.
Fiquei desconcertado, encantado e um pouco indignado.
Pensei na clareza, na candura e na felicidade de uma vida sem preconceitos, sem maldade, sem preocupações e com um mínimo de motivação aparente.
Pensei que todos derivamos de um pequeno ser, e que um dia aquela menininha talvez me soasse tal como seu irmão ou seus pais: crescidos, perdidos e sem reflexos.
O que dizer? O que fazer?
Tentei ajudar perguntando a qual andar iriam (coisa que não costumo fazer).
Me responderam com o nome de uma colega médica que eu não conhecia, e também não observei descrito nas informações afixadas no interior do transporte.
Não tive tempo de auxiliar mais, ja era o meu andar!
Coisas de elevador para o que não existe muitas regras.
As portas se fecharam e não vi mais o rosto da pequena curiosa!
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