quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ramerrão

Ser médico, nos dias de hoje, de certa forma é um privilégio. Não nos falta trabalho. Por outro lado, há de trabalhar por várias horas e em vários lugares. O telefone celular é um mal quase que totalmente necessário. Nesse contexto informações sobre pacientes são trocadas por colegas, e a calma que um tem para passar o caso, por vezes não é a mesma que o solicitado tem para refletir e responder. O tempo, o celular e a rotina aprisionam os médicos.

Imagine um cirurgião cardíaco que inicia a primeira cirurgia às seis horas da manhã, segue até metade da tarde, para então atender um ambulatório quase infinito, tendo que, no meio das consultas, responder a uma intercorrência nas enfermarias e a uma avaliação urgente solicitada pela UTI! Você pode dizer, loucura, não se pode trabalhar sozinho, ou desse jeito! Mas acontece, nos melhores hospitais,nas diferentes especialidades, em todas as cidades! No dia seguinte lá está novamente o cirurgião enfrentando uma nova jornada.

Pois ao sair da UTI de um Hospital dirigido por freiras, sou seguido pela enfermeira chefe, uma irmã que sustenta alguns prontuários enfileirados sobre as mãos. Em nossa frente, já distante poucos metros, caminha um senhor branco, magro, de poucos cabelos brancos que cercam a rubra calva. Com um curto jaleco branco e calças pretas o santo senhor interrompe seus passos:

- Padre Chico - chama a freira - O senhor deu a benção para a paciente do 9? Ela chegou ontem e é muito grave!

Nisso o pároco inicia uma meia volta, lenta como sua dúvida, olha para irmã um pouco desconcertado e responde como se procurasse uma explicação:

- Mas ninguém me avisou desta paciente!

Não acompanhei o desfecho. Acredito que a paciente recebeu a benção. Seguramente, na manhã seguinte, lá estará Padre Chico para uma nova visita!

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